«Queremos ter em Portugal o maior Congresso Mundial dos Hospitais»
Entrevista Ronald Lavater | CEO | Federação Internacional dos Hospitais
Ronald Lavater é um executivo do setor da saúde com 25 anos de experiência, em empresas públicas, privadas e sem fins lucrativos dos Estados Unidos e em mercados internacionais. Lidera a Federação Internacional de Hospitais (FIH) desde dezembro de 2020. Defende que os sistemas de saúde dependem de redes fortes e colaborativas, onde todos os atores participem, e que, em Portugal, o congresso mundial dos hospitais, a sua 46ª edição, será disruptivo. A começar pela escolha dos temas em debate.
Em outubro próximo terá lugar em Portugal o Congresso Mundial dos Hospitais. O que foi decisivo para esta escolha?
A APHP, junto com os membros da FHI, a Associação Portuguesa do Desenvolvimento Hospitalar (APDH) e a Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), formou um consórcio para acolher o congresso mundial dos hospitais de 2023. Isso não aconteceu nos últimos anos, e mostra o quão entusiasmadas estas três organizações estão para trazer especialistas, líderes de saúde e colegas de todo o mundo para Portugal e, assim, partilharem conhecimento e fazerem o melhor networking. Paralelamente, existem numerosas boas práticas e inovações que os hospitais portugueses e os serviços de saúde podem partilhar e, assim, proporcionar aprendizagens valiosas aos delegados internacionais. O facto de Lisboa ser um destino atrativo e acessível também ajudou. Tivemos uma ótima participação dos líderes de saúde portugueses nos congressos anteriores e achamos que este era o momento ideal para finalmente trazer o nosso congresso ao vosso país. Com o trabalho conjunto das três associações, há um enorme potencial para maximizar a participação local. Queremos ter em Portugal o maior Congresso Mundial dos Hospitais até agora.
Já elogiou, em diversas ocasiões, a valiosa troca de experiências realizadas no congresso do Dubai no ano passado. O que espera que seja diferente na edição portuguesa?
Aprimoramos continuamente o Congresso Mundial dos Hospitais e, com a ajuda do consórcio português, iremos desenvolver um programa ainda mais atrativo para garantir que as pessoas tenham uma boa experiência em outubro. Selecionamos cinco temas, que entendemos abrangerem os tópicos mais relevantes e questões críticas que os hospitais e líderes de saúde enfrentam hoje. As sessões científicas vão abordar a forma como os líderes podem rumar ao sucesso, o bem-estar dos profissionais, novas formas de prestação de serviços, o panorama digital em contínua expansão, e a saúde da próxima geração, sustentável e resiliente ao clima. Estamos também a trabalhar arduamente para tornar os nossos eventos mais sustentáveis com a ajuda da Geneva Sustainability Centre. Começámos a implementar algumas iniciativas durante o congresso do Dubai, mas tencionamos fazer mais este ano, uma vez que pretendemos ser uma referência no domínio dos eventos sustentáveis. Ficou claro que muitos congressistas gostaram de voltar a ter contactos pessoais presenciais, e por isso queremos maximizar o tempo dos participantes durante o congresso e proporcionar-lhes mais oportunidades para fazerem conexões significativas. Teremos mais e melhores atividades de networking e eventos em Lisboa. O consórcio português irá também ajudar-nos a mostrar a vibrante cultura local ao longo do congresso.
O setor hospitalar enfrenta vários desafios. Que medidas é que a comunidade da FHI preconiza com impacto transformativo e sustentável?
A nossa comunidade global identifica temas chave de preocupação comum para os quais a FHI desenvolve programas de apoio. Estes mudam ao longo do tempo, à medida que as prioridades mudam. Os tópicos do momento são a inovação, a tecnologia, os problemas de recursos humanos e melhorar a sustentabilidade dos serviços de saúde – todos se conectam de várias maneiras sob um tema mais amplo: construir resiliência nos sistemas de saúde para atender às crescentes pressões. Temos grupos especiais que trabalham na utilização de macrodados em saúde e da saúde digital. Outros fóruns da FIH têm-se concentrado no bem-estar dos profissionais para abordar questões de recrutamento e retenção, bem como o aumento da diversidade na liderança. Há também um apoio recente para uma rede de doenças pediátricas raras. Alguns dos nossos workshops mais recentes focaram-se nas medidas de cibersegurança hospitalar, na mitigação e prevenção da violência contra profissionais de saúde e em diferentes formas de abordar a adoção dos princípios de um hospital verde.
Qual é o propósito principal do Geneva Sustainability Centre, lançado pelo FHI? Como é que pode apoiar os membros da FHI?
O objetivo do Geneva Sustainability Centre é impulsionar um serviço de saúde net zero, resiliente ao clima e sustentável. Foi criado para apoiar os membros da FHI no combate às atuais, e futuras, consequências das alterações climáticas – e, mais importante ainda, a contribuição do setor da saúde para o mesmo. Os hospitais e líderes dos serviços de saúde precisam de ser mais proativos na transformação para as emissões sem carbono. O Geneva Sustainability Centre está a desenvolver recursos e ferramentas para ajudar os membros da FHI a construir resiliência climática e sustentabilidade nos seus serviços, trabalhando com e para as comunidades que servem. A transição para cuidados de saúde sustentáveis melhorará a qualidade de vida, a resiliência e o bem-estar das comunidades. As alterações climáticas são uma questão de saúde e o caminho para a emissões sem carbono reduzirá a carga sobre os hospitais e sistemas de saúde.
No ano passado, a APHP juntou-se à FIH e agora existem três instituições portuguesas (com APAH e APDH) na Federação. Como vê essa confluência de vontades por parte dos diversos players hospitalares? Como vê esta articulação entre hospitais públicos e privados?
A ideia fundadora da FHI – em 1929 – era que a colaboração e a troca de conhecimento são o caminho para melhorar a prestação de serviços de saúde e, consequentemente, os resultados de saúde para os pacientes. É tão verdadeiro hoje como era então, e continua a ser o nosso propósito principal. Existem diferentes modelos de prestação de cuidados de saúde em todo o mundo, mas os problemas enfrentados pelos hospitais e as suas comunidades, trabalhadores e pacientes são desafios comuns que beneficiam de soluções comuns. A pandemia da COVID-19 serviu para lembrar que os sistemas de saúde (com hospitais públicos e privados) dependem de redes fortes e colaborativas, onde todos os atores participam para a melhoria da saúde. As três instituições portuguesas que se juntaram para acolher o Congresso Mundial dos Hospitais são um grande exemplo de como os prestadores de serviços públicos e privados podem trabalhar em conjunto para coordenar uma conversa global sobre o futuro da prestação e liderança de cuidados de saúde.
Deixe um comentário
Tem de iniciar a sessão para publicar um comentário.