«A Europa da saúde precisa ser melhorada, ampliada»

«A Europa da saúde precisa ser melhorada, ampliada»

A União Europeia de Hospitalização Privada (UEHP) assinalou 30 anos em 2021. Em entrevista à Feedback, o presidente Paul Garassus recorda os princípios fundadores e reitera a sua atualidade num momento em que se debatem modelos para uma União Europeia da Saúde, acelerada pela pandemia de COVID-19. Os hospitais privados estão disponíveis para colaborar ativamente na formulação de sistemas de saúde mais consistentes, mas, lamenta, «a questão principal continua a ser da regulação dos Estados-Membros e da equidade entre os setores hospitalares».

A UEHP foi criada em 1991. Mas já existiam associações predecessoras. Os princípios fundadores continuam válidos?

Em 1972, a União Internacional de Hospitais Privados (UIHP) foi criada em Hamburgo com três membros fundadores: França, Alemanha e Bélgica. Quase vinte anos depois, a UIHP evoluiu para a forma atual UEHP, tendo a Europa como tema central. Os “pais fundadores” da nossa associação são de uma geração de pioneiros que sofreram com a Segunda Guerra Mundial e desejam dinamizar a colaboração entre as nações, para construir um futuro comum de paz, desenvolvimento económico e iniciativas empresariais.

O que mudou e o que evoluiu em 30 anos na UEHP?

Sonhamos profissionalizar a nossa associação. As nossas mensagens são estruturadas pelos factos sociais, económicos e políticos que impulsionaram a Europa moderna. A vontade colaborativa das associações que integram a UEHP tem sido a de desenvolver uma política baseada nas experiências nacionais, partilhá-las e depois traduzir a ambição de uma Europa da Saúde aberta à iniciativa privada, capaz de trazer um desempenho organizacional aberto aos cidadãos europeus. Os hospitais privados mudaram muito, com a formação de grandes grupos operacionais e ampliando o seu envolvimento na oferta de cuidados. Os “gigantes” não nasceram apenas em França, Alemanha e Espanha, mas também em Itália, Polónia e Portugal.

Como vê a relação entre o associativismo no setor e a evolução da hospitalização privada na Europa?

O setor hospitalar privado é o único setor em crescimento na Europa, especialmente na Europa Oriental. Os hospitais evoluíram com a redução do tempo de espera, o desenvolvimento do atendimento em ambulatório, o fortalecimento da articulação entre diagnóstico e tratamento, mas sobretudo fizeram grandes investimentos em prol da medicina moderna: acessível, tecnológica e eficiente. As competências das equipas médicas e paramédicas, o talento dos gestores privados, a capacidade de iniciativa e adaptabilidade permitiram este verdadeiro sucesso. Nada é fácil num ambiente competitivo, mas de respeito pelo princípio da “concorrência leal” entre fornecedores. A questão principal continua a ser da regulação dos Estados-Membros e da equidade entre os setores hospitalares.

Que futuro está reservado para a hospitalização privada europeia num cenário de União Europeia da Saúde, como a que a presidente da Comissão Europeia tem preconizado neste contexto de pandemia de COVID-19?

A Europa sempre foi construída na sequência de sucessivas crises. De uma Europa económica baseada na liberdade de circulação de pessoas e capitais, a evolução está a dar-se claramente na partilha de recursos e soluções operacionais. Vimo-lo quando, surpreendidos pela violência da propagação do vírus COVID-19 e pelos grandes perigos para as populações europeias, que após uma fase inicial a colaboração entre os Estados-Membros se tornou a regra. E a força esteve sob a pressão dos acontecimentos, para criar uma resposta comum, capaz de dar resposta às necessidades em termos de meios (EPI’s, ventiladores, medicamentos), trocas e transferências de doentes ou equipas médicas, um observatório e recomendações que levaram à criação de uma nova agência HERA e, finalmente, uma resposta comum através de contratos negociados para disponibilizar vacinação à escala de um continente. São avanços importantes que devem levar a mudanças nos nossos estatutos e, muito provavelmente, nos nossos tratados.

É utopia pensar-se que, um dia, a União Europeia, possa rever o dito princípio da subsidiariedade?

A Europa da Saúde precisa ser melhorada, ampliada. Muitos governos nacionais querem manter um estrangulamento tutelar do seu sistema de saúde e, em simultâneo, serem apoiados pela Europa quando precisam. A solução virá de um princípio colaborativo fortalecido, não para substituir a liberdade democrática dos Estados-Membros, mas para otimizar soluções por meio de trocas de experiências, princípios de boa gestão baseada em fatos e escolha de indicadores partilhados de saúde pública. Tomemos apenas um exemplo: a OCDE (recordo que a UEHP é membro do BIAC Business and Industry Advisory Committee, o conselho profissional da OCDE) publica regularmente avaliações dos sistemas internacionais de saúde. 10 a 20% das despesas são desperdiçadas por métodos organizacionais duvidosos ou de qualidade insuficiente. A redução de eventos adversos graves requer uma cultura comum de resultados, bem como um benchmark de soluções hospitalares. O setor privado lidera essas reformas, para conter custos e melhorar os resultados. A Europa será a dimensão útil para esta próxima “revolução”!

Como caracteriza o contributo da APHP, desde a sua adesão em 2004, para a atividade da UEHP?

A APHP é um parceiro essencial da UEHP. Profissionalismo, espírito de iniciativa, envolvimento colaborativo fizeram da associação portuguesa um dos pilares da nossa federação. Referencio dois exemplos relevantes: a organização de reuniões com o Ministro da Saúde durante a minha visita a Lisboa no final de 2021 para contactos diretos ao mais alto nível; e a organização em junho de 2022 dos European Private Hospital Awards. Estamos ansiosos por este encontro que nos permitirá fortalecer ainda mais os laços profissionais e de amizade, mas também, graças à APHP, mostrar a todos a importância do nosso setor na Europa.

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