Sustentabilidade do sistema de saúde passa pela maior intervenção dos privados
O setor privado da saúde é cada vez mais relevante para a saúde dos portugueses, para a sustentabilidade do sistema de saúde e para o tecido empresarial nacional, sendo responsável por 79 mil empresas, 130 mil empregos e 5,7 mil milhões de euros de faturação anual. Esta é a principal conclusão do estudo “Setor Privado da Saúde em Portugal”, que a consultora Augusto Mateus & Associados realizou para o Millennium bcp, e que foi publicamente apresentado, no passado dia 10 de julho, na Fundação Bissaya Barreto, em Coimbra.
A consultora concluiu que, em Portugal, a par dos fatores do sucesso da hospitalização privada, como «a reputação, a excelência clínica, a tecnologia, o preço e a satisfação do cliente», há particularidades do sistema de saúde que motivam o seu desenvolvimento: o desejo de maior conforto, por parte do cidadão, nos serviços de hospitalização; a rápida resposta aos doentes cirúrgicos; a conveniência no acesso a MCDTs de elevada qualidade; a incapacidade de resposta por parte do SNS; a relação win-win dinamizada com as sociedades de seguros, «que substituem progressivamente o Estado no financiamento das despesas em Saúde, sobretudo desde o início da crise económica».
Neste contexto, a Augusto Mateus & Associados defende a clarificação das funções do Estado enquanto acionista, financiador, regulador e prestador no contexto do SNS e sugere o fim das ambiguidades derivadas de sobreposições destas várias funções.
Os autores do estudo concluíram que a poupança de recursos e a efetiva sustentabilidade do sistema, que passa pela maior intervenção dos privados na saúde, terá de maximizar a satisfação dos doentes, «não só a qualidade intrínseca dos serviços que lhe são prestados, mas também o cuidado, simpatia e a personalização no atendimento, a dedicação prestada pelos profissionais de saúde, o design, conforto e layout das instalações, entre outros».
Reconhecendo a necessidade de haver em Portugal a transformação do volume-based healthcare em value-based healthcare, que pretende potenciar os melhores resultados (satisfação do doente) ao menor custo/preço, o estudo revela que o setor privado da saúde apresenta bons índices competitivos (mais favoráveis do que a generalidade das atividades económicas do país) e prossegue a sua expansão para o interior do país.
O estudo recomenda também que a hospitalização privada esteja atenta a todas as mudanças nas fontes de financiamento e incita-a a dar respostas mais abrangentes e eficazes aos desafios colocados pelo envelhecimento da população, pelo aumento da incidência de doenças crónicas e pelo ritmo elevado a que a inovação nas ciências da saúde e no digital ocorrem.
Os quatro maiores grupos da hospitalização privada portuguesa – cuja faturação ascendeu a 1.270 milhões de euros em 2014 – geraram um volume de negócios correspondente a cerca de 15% do setor privado da saúde, a 25% das atividades de prática médica com internamento e ambulatório e a 58% das atividades de prática médica com internamento.
O que disseram os oradores
«Como sou de Torres Vedras aceitei presidir ao conselho consultivo do Centro Hospitalar do Oeste, o que é um grande desafio para quem não é especialista na área da saúde. Esta área interessa cada vez mais aos nossos clientes, pelo que temos o maior prazer em dinamizar estudos como este, que possam ajudar a definir estratégias para o setor».
Nuno Amado, presidente da Comissão Executiva, Millennium bcp
«O setor privado da saúde tem revelado um esforço notável, com mais investimento; com a assunção de mais riscos; mais escala; mais competências, incluindo na área hospitalar; mais postos de trabalho; mais sofisticação. Os hospitais privados têm-se modernizado mais rapidamente que o setor público, que até o copia depois. Estudos da UTAP comprovam que as PPP na Saúde são, como poucas atividades, muito escrutinadas e apresentam resultados muito positivos».
Manuel Delgado, secretário de Estado da Saúde
«A sustentabilidade da saúde depende da eficiência económica, da liberdade individual (concorrência) e da justiça social na organização do território».
Augusto Mateus e Hermano Rodrigues, Augusto Mateus & Associados
«Vivemos numa terra emprestada pelos nossos filhos».
Fernando Regateiro, Presidente do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, citando os índios Sioux
«A dinâmica, motivação e recursos dos privados devem ser aproveitados no sentido de melhorar o sistema de Saúde, aumentar o valor gerado e reduzir a despesa pública. A maior participação dos privados no sistema de saúde é uma via para a sustentabilidade do SNS. Os cidadãos reconhecem o valor da oferta privada em saúde e são, felizmente, cada vez mais exigentes para com os prestadores. O crescimento dos seguros de saúde e o alargamento dos subsistemas públicos de saúde têm subjacente a qualidade da oferta privada, ao mesmo tempo que originam poupança na afetação de recursos públicos à Saúde».
Oscar Gaspar, presidente da APHP
«O setor da Saúde em Portugal é proeminente e tem tido uma notável evolução nas últimas duas décadas. Pela hospitalidade, qualidade dos serviços e inovação, Portugal é um destino atrativo para turismo de saúde. A sua promoção tem de ser um compromisso nacional».
Joaquim Cunha, diretor executivo do Health Cluster Portugal
«É necessário reorganizar os hospitais, trazendo agora a gestão para o processo clínico».
Isabel Vaz, presidente executiva do Grupo Luz Saúde
«O BCP está atento e interessado em apoiar o setor privado da Saúde e em favorecer o acesso dos clientes à hospitalização privada».
Miguel Maya, vice-presidente da Comissão Executiva, Millennium bcp
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