«Definir Padrões de Qualidade Mínimos em todos os Estados-Membros para aumentar a cobertura do acesso universal»
Para dar continuidade ao Dossier «União Europeia da Saúde», a Feedback dirigiu as mesmas quatro perguntas enviadas aos convidados anteriores à eurodeputada Sara Cerdas, que tem como uma das suas principais bandeiras aquilo que a chama de «a Saúde em Todas as Políticas». Vice-presidente da Comissão Especial sobre a Luta contra o Cancro e membro da Comissão do Ambiente, da Saúde Pública e da Segurança Alimentar, defende que a aposta deverá passar por um trabalho mais articulado entre os Estados-Membros e a Comissão Europeia, para fazer frente às questões emergentes de saúde pública.
- A pandemia de COVID-19 expôs fragilidades dos sistemas de saúde na Europa, houve críticas de falta de coordenação e muitas vozes já recomendam mais políticas comuns nesta área. O futuro passará por ter mais Europa na Saúde para que se alcance mais Saúde na Europa?
Num evento sem aviso prévio, a pandemia assolou a Europa de forma catastrófica. Se a resposta inicial foi dos Estados-Membros, rapidamente a União Europeia juntou forças e organizou-se para dar uma resposta coordenada e solidária, com várias ações para minimizar o impacto da primeira vaga e para melhor preparar a segunda. Os cidadãos pediram mais intervenção por parte da União, no que concerne à resposta à pandemia, e o Parlamento Europeu fortaleceu este pedido através de resoluções para alcançarmos mais saúde na Europa e mais Europa na Saúde. No passado dia 11 de novembro a Comissão apresentou a sua ambição de ter uma verdadeira União Europeia da Saúde, em resposta ao apelo do Parlamento Europeu e às necessidades dos cidadãos. Duas semanas depois, a 25 de novembro, apresentou a Estratégia Farmacêutica para a Europa numa aposta de dar resposta às necessidades dos cidadãos, garantir o acesso a fármacos acessíveis, uma maior aposta na investigação e na preparação de futuras ameaças. Aguarda-se o lançamento do terceiro pacote de medidas que é o tão almejado Plano Europeu de Combate ao Cancro no mês de dezembro.
- Com tantos e tão diversos sistemas de saúde entre os estados membros da União Europeia, como se pode alcançar uma União Europeia da Saúde?
A proposta da Comissão é reforçar as competências do ECDC e da EMA e criação da Autoridade de resposta a emergências em saúde (Health Emergency Response Authority), com vista a aumentar a resiliência e a preparação da União para ameaças em saúde pública. Se por um lado a competência da prestação de serviços está alocada aos Estados-Membros, há uma partilha de competências entre os Estados-Membros e a União Europeia na defesa da saúde pública. A aposta deverá passar por um trabalho mais articulado e coordenado entre os Estados-Membros e a Comissão Europeia, para fazer frente às questões emergentes de saúde pública. Outra abordagem que queremos implementada, já refletida no Programa de Saúde Europeu, é a realização de Testes de Stress aos Serviços de Saúde, no sentido de identificar lacunas e dessa forma corrigi-las, reforçando a resiliência dos sistemas de saúde. Alinhado com os Testes de Stress será de definir e implementar os Padrões de Qualidade Mínimos em todos os Estados-Membros, no sentido de garantir a segurança dos doentes e profissionais de saúde e aumentar a cobertura do acesso universal aos serviços de saúde.
- Como avalia a recomendação prevista em recente Resolução do Parlamento Europeu para “integrar o financiamento adequado do sistema de prestação de cuidados e indicadores e objetivos vinculativos em matéria de bem-estar nas recomendações específicas por país no âmbito do Semestre Europeu”?
Sociedades saudáveis são aquelas que promovem a saúde e o bem-estar, e quando falamos em saúde não podemos restringir-nos apenas aos cuidados de saúde. O financiamento dos sistemas de saúde é crucial e é necessário para dar a resposta às necessidades de saúde dos cidadãos, mas precisamos de trabalhar transversalmente em todos os setores para atingir um bom estado de saúde e bem-estar. Uma das minhas bandeiras é a Saúde em Todas as Políticas, um conceito que reflete isto mesmo, em que as sociedades poderão beneficiar num todo se avaliarmos os impactos das diferentes políticas na saúde dos cidadãos.
- A Diretiva dos Cuidados Transfronteiriços de Saúde, anunciada há 10 anos para maior convergência e uniformização dos cuidados, não parece ser, hoje, mais do que uma tímida e esquecida tentativa. O que falhou? A heterogeneidade dos sistemas é um obstáculo ao direito dos cidadãos? Cada um dos sistemas tende a ser protecionista? Que lições daqui se podem retirar para o futuro?
A Diretiva dos Cuidados Transfronteiriços de Saúde é uma resposta de como a União serve os interesses dos seus cidadãos e permite o acesso a cuidados e tratamentos médicos, mesmo quando fora do seu país. Os Estados-Membros têm trabalhado para que haja uma maior implementação desta Diretiva, interiorizando um sentimento europeísta e de partilha de doentes, que otimiza as vantagens para os cidadãos europeus no que concerne aos cuidados de saúde. Esta é uma Diretiva que o Parlamento Europeu luta constantemente, para que haja uma maior implementação junto do Conselho e da Comissão Europeia, pois compreendemos que é uma aposta ganha quando implementada na íntegra.
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